O médico
Óscar Alfredo Paulo recebeu a menção honrosa pela pesquisa “Rastreio da
hepatite viral B e C no Hospital Provincial do Uige”. O prêmio foi
concedido pela Ordem dos Médicos de Angola. Oscar faz especialização em
gastroenterologia clínica no Gastrocentro da Unicamp e é aluno de pós-graduação
do convênio internacional firmado entre a Universidade e o governo de Angola . A
orientação da pesquisa foi do gastroenterologista Jazon Romilson de Souza
Almeida, médico do Gastrocentro da Unicamp.
"Este convênio prevê a formação, pela Unicamp, de
centenas de profissionais médicos e não-médicos que atuarão em Angola . A disciplina de Gastroenterologia do
Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e o
Gastrocentro receberão outros profissionais, de acordo com a demanda de Angola.
Já contribuimos com a formação de um médico angolano que, atualmente, é
o responsável pelo Serviço de Endosccopia Digestiva do maior hospital de Luanda ", explicou o
médico José Murilo R. Zeitune, chefe da disciplina de Gastroenterologia da
FCM.
O Hospital
Provincial do Uige é um dos maiores de Angola e atende, gratuitamente, uma
população de dois milhões de habitantes. Óscar conta que o Hospital
Provincial do Uige demonstra ser o epicentro da história cíclica de epidemias em Angola . Na década
de 1970, epidemia de febre tifoide; em 1995, epidemia de febre hemorrágica e em
1996, um surto caracterizado por diarreia, febre e icterícia que nunca foi
investigado.
Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), Angola está incluída na área de alta e
média endemicidades para a hepatite B e C. A hepatite caracteriza-se por um
mal-estar, dor abdominal mal definida e síndrome febril, algumas vezes
ictérica. Na hepatite por vírus C, 80% dos casos a fase aguda é
assintomática. Na sua forma crônica, ambas podem levar à cirrose hepática e ao
carcinoma hepatocelular, de maneira letal.
“A hepatite
é uma doença silenciosa. O vírus fica incubado e vai se manifestar na
fase aguda da doença. Como não havia dados sobre
a hepatite em Angola , fiz a
pesquisa no mês de agosto do ano passado por meio de marcadores sorológicos e
revisão bibliográfica, quando estive em Angola ”, explicou Óscar.
A amostragem foi constituída de 170 pacientes. Entre doentes
internados pelas mais diversas causas, foram excluídas menores de 15 anos e
pacientes obstétricos. Os resultados demonstraram 31 pacientes (18%) positivos
para o vírus da hepatite B; 7 pacientes (4%) positivos para o vírus da hepatite
C. A coinfecção pelo vírus da hepatite B e C foi observada em cinco pacientes
(3%).
Do total de
casos soropositivos, 4 pacientes (10,5%) tiveram história prévia de transfusão
sanguínea até aos últimos seis meses antes do teste; 15 pacientes (40%)
apresentaram evidência clínica de cirrose hepática descompensada e 2 pacientes
(5,2%) apresentaram sinais ecográficos sugestivos de carcinoma hepatocelular,
tendo um deles evoluído a óbito após uma semana.
“A média de
transfusões sanguíneas no Hospital é de 450 por mês. Em Angola , faz-se
ainda transfusão de sangue sem fazer o teste para a hepatite. A pesquisa mostra
que 10% dos pacientes diagnosticados com hepatite B e C tiveram histórico de
transfusões múltiplas nos últimos meses. É preciso mudar a mentalidade dos
gestores da área da saúde de Uige. Com os conhecimentos adquiridos,
queremos ajudar aos gestores da área da saúde de Uige a tomar novas decisões”,
disse Óscar.
O médico angolano fica no Brasil até fevereiro de 2014,
quando termina sua especialização. Até lá, ele completa a sua formação na área
de gastroenterologia. Óscar confessa ter um ciúme positivo do Brasil nos
avanços no campo da saúde, ensino e comunicação.
“Tenho a
responsabilidade de voltar para Angola e fazer a minha parte para melhorar a
assistência e o ensino de saúde no meu país. Vocês, aqui, estão no céu”, disse
o médico angolano.
FONTE: UNICAMP
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