“Correr atrás da minha bisneta, de seis meses de idade, será
o meu divertimento”. A voz ainda fraca contrasta com a determinação com
que o aposentado João Soares Batista, de 78 anos, define como será a sua rotina
daqui por diante. Ele foi o primeiro paciente do Instituto Estadual de
Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac) a ser submetido a um procedimento novo na
rede estadual de saúde para a troca de válvula aórtica, que faz a substituição
por meio de cateterismo. Desta forma, o paciente não precisa abrir o tórax para
operar o coração.
Portador de uma estenose aórtica grave, que pode dificultar
ou até impedir a passagem de sangue do coração para o resto do corpo, João já
não conseguia se movimentar direito. A cada vez que saía de casa, sentia
cansaço e até vertigens. “Há dois anos, eu estava na rua, fiquei tonto e
encostei-me em um muro. Fui socorrido e levado para um hospital e lá me
disseram que se eu não tivesse chegado rápido, teria morrido”, relata.
Desde então, a situação clínica de João Batista começou a
declinar e ele acabou se tornando um paciente inoperável, ou seja, que não
poderia ser operado com o uso das técnicas tradicionais de cirurgia para a
substituição dessa válvula. “Não era só a questão da idade, mas um conjunto de
condições, tais como as condições clínicas, as
funções cardíaca, renal, entre outras, que indicam se um paciente é operável ou
não”, afirmou o cardiologista Márcio Montenegro , que coordenou o
procedimento.
Com o agravamento do quadro clínico, João teve que abandonar
a rotina de ainda trabalhar como
comerciante, embora já tivesse aposentado. “O cansaço foi aumentando, e eu tive
que parar de trabalhar. Mas eu sempre tive esperança de ficar bom. Se não
tivesse, não teria obedecido tudo que os médicos me mandaram”, acrescentou.
A obediência e a nova técnica tiveram resultado positivo. Uma
semana depois de ser operado, João Batista recebeu alta nesta quarta-feira e
foi para casa. Casado há 53 anos e pai de quatro filhos, levava no peito, além
de uma válvula aórtica nova, a certeza de que poderá levar uma vida normal. As
condições cardíacas do aposentado vão melhorando gradativamente e não será
surpresa se em curto espaço de tempo ele já estiver correndo atrás da bisneta.
Procedimento - O
procedimento que foi feito no aposentado é indicado para pacientes considerados
inoperáveis e pode ser usado como
opção de tratamento para aqueles que têm alto risco cirúrgico. Já nos pacientes
com médio ou baixo risco, a técnica tradicional continuará sendo indicada.
De acordo com Márcio Montenegro, os candidatos a se
submeterem à nova técnica são selecionados pela equipe do Iecac e passam por
avaliação da equipe do Instituto, além de realizarem exames como
ecocardiografia, cateterismo e tomografia. Os resultados são analisados também
pela empresa que fabrica as válvulas.
No tratamento padrão, o paciente precisa ser entubado e o
coração para, para que a válvula seja trocada. Pela nova técnica, é feito um
corte na artéria femural do paciente, onde é inserido um cateter que levará a
válvula até o coração, sem a necessidade de parar o funcionamento do órgão. A
média de internação de um procedimento para o outro cai de dez para quatro
dias.
“Quando
falamos em custos temos que levar todos esses fatores em consideração, que é a
recuperação, o tempo que esse paciente ficará internado, e não apenas um único
valor”, acrescentou o diretor do Iecac, Antônio Ribeiro.
FONTE: Governo
do Estado do Rio de Janeiro
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