“Quando me perguntam há quanto tempo estou no Instituto de
Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), costumo responder que o IEDE
é que está há muito tempo em mim”. Foram com estas palavras que Raul Fialho de
Faria Júnior, diretor técnico da unidade, deu início à entrevista. Nesta
terça-feira, dia 11 de setembro, o médico completa 90 anos de idade, 65 deles
são dedicados diariamente às atividades do IEDE. Questionado sobre quando
se pretende se aposentar, o especialista é enfático: “Para
quê? Eu faço o que eu gosto, gosto das pessoas com quem trabalho e elas de mim.
Para quê vou me aposentar? Para
não fazer mais nada?”.
Raul Filho de Faria Júnior é de uma época em que os médicos
formados não tinham especialidade na área médica. Cada um entendia de tudo um
pouco. “No meu tempo, o único remédio indicado para o tratamento da diabetes
era a insulina”, relembra.
Formou-se em 1947 pela Faculdade Nacional de Medicina, da
então Universidade do Brasil e a escolha da profissão não era desejo da família
e nem dele próprio. E, pelo que conta, a especialidade em endocrinologia parece
ser uma ironia do destino.
“Eu queria ser soldado. Durante um ano, me preparei para
fazer a prova da Escola de Guerra. Fui reprovado. Motivo: meu peso não era
compatível com a minha altura. Eu era muito magro. No ano seguinte, tentei
engordar, fiz ginástica, mas quando se aproximou novamente a época do exame,
tive pneumonia. Aí desisti e resolvi fazer medicina, pois na minha família não
havia médicos, só contadores, que são os chamados economistas hoje em dia”,
recorda.
A disciplina daqueles que seguem a carreira militar parece
que sempre esteve presente na vida de Raul Faria. Quando estava no quinto ano
da faculdade, ele entrou para o IEDE e de lá não saiu mais. Até hoje, comparece
todos os dias para trabalhar e a rotina só não é mais intensa por conta das
limitações da idade.
A história de vida do diretor técnico da unidade se mistura
com o próprio nascimento do instituto. Naquela época, existia, até então, o
Hospital Moncorvo Filho, que criou um anexo para formar o Centro de Diabetes e
Endocrinologia da unidade. Em 1967, o centro foi transformado no IEDE, que
absorveu, posteriormente, a própria unidade hospitalar. Atualmente, o instituto
é referência nacional para as atividades de endocrinologia, diabetologia,
metabologia e nutrição e é a única instituição pública de saúde do Brasil
dedicada exclusivamente a essas especialidades.
Com o passar dos anos, a área médica foi começando a criar
as especialidades das cadeiras dos cursos de graduação. Raul Faria acompanhou
todo esse processo, não só como aluno, fazendo
parte do primeiro grupo a se especializar, mas também como integrante da mudança metodológica. Desde
1990, é professor associado da disciplina de endocrinologia da escola médica de
pós-graduação da PUC aonde leciona a matéria de bioestatística.
“Atualmente, a especialidade é uma necessidade, pois é
impossível saber todos os detalhes da medicina até porque a cada dia aparece
uma coisa nova. Além disso, na minha época, não havia estatística
(bioestatística) como
base para estudo de doenças e seus desdobramentos. O IEDE também é referência
nesse sentido, uma vez que desenvolve pesquisas cujos resultados já foram
publicados na literatura médica internacional e apresentados em congressos
mundiais”, afirma o médico.
Os distúrbios das doenças alimentares como a obesidade e anorexia, por exemplo, são
casos típicos de pesquisas e estudos cada vez mais frequentes na área
científica. A mudança de rotina, uma realidade do mundo moderno, reflete na
vida e na saúde das pessoas. “Antigamente, as pessoas paravam as atividades e
iam para casa almoçar. Hoje, basta ir à esquina, comer um lanche rápido e
retornar o mais depressa possível para o trabalho”, analisa.
Sobre o futuro da medicina, Raul Faria acredita que a
tendência é o aumento do nível de conhecimento da classe médica, uma vez que, a
cada dia, a exigência se torna mais latente. Mas, faz um alerta: “É preciso ter
cuidado para não cair no erro de querer inovar simplesmente, visando ao lucro,
apenas”.
FONTE: Governo
do Estado do Rio de Janeiro
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